segunda-feira, janeiro 22, 2007

Por Mariana Magalhães(nº11)

Questão entre comadres a ser resolvida. Questão seríssima, dinheiro. Andei prorrogando, sem preocupação, porque, feliz ou infelizmente, eu não consigo dar ao dinheiro o valor que talvez ele mereça. Pensando bem, a palavra é infelizmente, mas esse não é o motivo pelo qual escrevo. Estive com toda determinação de montar um barraco, dizer coisas, falar de decepção, de injustiça, de cobrar, estraçalhar. Com certeza, com de costume, me transformaria num animal, ofegando, tremendo, gritando. Enfim, tive meio que uma sessão de análise (na qual eu fui a cortante! Olhem só. Ela disse que estou sabendo a duração da sessão pedindo o corte, e ele me deixou cortar! Só me dei conta depois de ter levantado da cadeira... Fiquei esperando o corte, eu estava atrasada, não era meu direito estar ali). Voltando à sessão informal, e com portas abertas! Falei da minha raiva quando pensava em resolver a questão de comadres. Ela: “tire a raiva.” Foi simples assim, tire a raiva e resolva o seu problema. Telefonei compulsivamente para a comadre ainda a fim de arrebentar a boca do balão. Não consegui, resolvi relaxar. Às 22h o telefone toca - a comadre. Entre várias colocações, recebendo muitas vezes o meu silêncio como resposta (afinal, eu estava tentando tirar a minha raiva), ela se justifica, colocando por si mesma o prazo para o pagamento. Eu: “Então, sexta-feira que vem, da outra semana.” Ela carregava o sotaque carioca, como eu bem conheço. Pensei: está encenando. Como é difícil enganar essa aspirante à psicanalista! (Estou rindo muito agora disso tudo). Ela: “Sim, sexta quem vem... Você deve estar retada. Mas você merece uma justificativa.” Eu: “Se você quiser dar a justificativa, tudo bem, mas não é do meu desejo ouvi-la. Eu só quero saber se é esse mesmo o prazo e se você vai cumpri-lo”. Ela ficou em silêncio. Eu dei o corte. E o que é melhor, retirei a raiva. Agora é só aguardar o resultado.

Mariana Magalhães