segunda-feira, janeiro 29, 2007

Por Mariana Magalhães(nº12)

Ontem assistindo à televisão, um professor de Cabala disse que a mente precisa descansar porque estamos bombardeados de informações por todos os lados. Se isso é possível, eu não sei porque a minha não consegue. Estar sob análise, participar do Mundofreudiano, estudar, sonhar... Andei fugindo disso descuidadosamente. Do trabalho, se é que aquilo é trabalho, sumi. Estou em iminência de acabar com o tratamento químico ao qual venho me submetendo há sete meses. Submetendo... não escolhi tomar todas essas drogas, apenas desacreditei de qualquer coisa que pudesse me tirar do lugar... eu não conseguia sair do lugar. Vejo um progresso: de 20mg estou em 8mg. Não sinto mais os maus efeitos da droga, mas também deixei de sentir os bons. Acho que a única coisa que ela tem feito é segurar a minha vontade de chorar. Como ouvi: saio do alento, entro no desalento, e vice-versa. Saio do lugar, volto para o mesmo lugar. Fico parada. Me convoco a despertar. Isso não é brincadeira, menina... É tudo responsabilidade minha. Eu não consigo explicar uma inquietação que vem. O sexo não basta para passar isso. E eu tentando me enganar...

Mariana Magalhães

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Por Íris Ferraz(nº11)

Fiquei perguntando, O QUE É O MUNDO FREUDIANO? Há um tempo reservado ou ele atravessa todo o grupo nos encontros? Para mim estudar psicanálise é um constante mundo freudiano, é se reconhecer na teoria, não por patologia mas por humanidade pois acho que o que o pai da psicanálise fez foi estudar as questões humanas, principalmente em sua subjetividade e sendo subjetiva é tb ampla, sendo assim acho impossível não identificar-me. Penso nisso hoje, sexta-feira, pelo que observei ontem no grupo. Me parece que o mundo freudiano não teve tempo determinado pois esteve presente desde o início, todos falamos em 1º pessoa . pensei que o capítulo da droga mágica provocou questões pessoais e se o tema tem haver com o que aconteceu quinta, acho que é porque usando uma droga Freud talvez fique mais próximo de nós. O que também me faz pensar na figura do analista, me pergunto porque tanta idealização em sua imagem , se o que ele fez foi estudar a psicanálise que é uma teoria do humano. Cujo pai, Freud teve para mim o mais admirável, a capacidade reconhecer erros e voltar em sua teoria, deixando tudo registrado. Por isso acredito que identificação com a teoria venha da possibilidade de nela poder me reconhecer no erro e se reconhecer no erro é mais sincero. (no original outro trecho se encaixa a partir do humano o que seria o texto na íntegra, sua exclusão e acréscimo do azul foi por conta da resistência na releitura no Mundofreudiano, hoje possível de entender). Se pretendo ser analista, ou seguir sendo, não é imagem executiva de uma sala elegante em um edifício comercial ou a imagem pedagógica de responder a questões da teoria que me dará este “poder”, poder, pensando na frase que diz que “é poder, pensando na frase que diz que nrtir do humno conhecer no erro e se reconhecer no erro analista quem pode”. Os requisitos para a função não são adquiridos externamente, mas internamente e aceitando o que há de mais humano, que são os erros. Talvez por isso a paixão dos Psis por Freud, pois acho admirável sua capacidade de reconhecer erros e voltar em sua teoria. Talvez a identificação com relação a teoria seja porque nela possamos nos reconhecer no erro e se reconhecer no erro é mais sincero.

Íris Ferraz

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Por Eduardo Sande(nº11)

Mais um fragmento de sonho. Uma dor no peito violenta. Sinto que morro. Há um desmanchamento concêntrico de mundo. Um sentimento de estranheza de como a morte se apresenta simples. Acordo. Uma sensação de tranqüilidade e bem estar. Anos depois, uma analisante traz um sonho parecido: está na rua, leva um tiro, sente que morre. Pensa: morrer é só isso. Ontem fui ao aniversário de uma amiga. Seu marido foi atropelado por uma moto (ia escrever pela morte). Os amigos brincam que não foi uma moto, foi uma motoqueira. O sexo bordeja o registro da morte. É como se dissesse: ‘já que a morte não adveio, vamos ao que interessa: o sexo’.
Hoje pela manhã, assisti ao filme ‘Crash’. Me parece uma estética forte (apesar de americanizada). As vidas correm ao longo da grande cidade, Los Angeles. A cada momento que o roteiro foca uma vida, que se cruza aqui e ali com as outras, vemos o lobo do homem agindo. Os personagens mudam de posição e seus atos, por mais terríveis que sejam, tem uma justificativa. Um consultório de psicanalista tem um pouco desta estética. A cada sessão, o universo faz curva em um discurso particular. Logo depois outro. Nós analistas, como a câmara a flutuar entre as cenas.
Eduardo Sande

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Por Mariana Magalhães(nº11)

Questão entre comadres a ser resolvida. Questão seríssima, dinheiro. Andei prorrogando, sem preocupação, porque, feliz ou infelizmente, eu não consigo dar ao dinheiro o valor que talvez ele mereça. Pensando bem, a palavra é infelizmente, mas esse não é o motivo pelo qual escrevo. Estive com toda determinação de montar um barraco, dizer coisas, falar de decepção, de injustiça, de cobrar, estraçalhar. Com certeza, com de costume, me transformaria num animal, ofegando, tremendo, gritando. Enfim, tive meio que uma sessão de análise (na qual eu fui a cortante! Olhem só. Ela disse que estou sabendo a duração da sessão pedindo o corte, e ele me deixou cortar! Só me dei conta depois de ter levantado da cadeira... Fiquei esperando o corte, eu estava atrasada, não era meu direito estar ali). Voltando à sessão informal, e com portas abertas! Falei da minha raiva quando pensava em resolver a questão de comadres. Ela: “tire a raiva.” Foi simples assim, tire a raiva e resolva o seu problema. Telefonei compulsivamente para a comadre ainda a fim de arrebentar a boca do balão. Não consegui, resolvi relaxar. Às 22h o telefone toca - a comadre. Entre várias colocações, recebendo muitas vezes o meu silêncio como resposta (afinal, eu estava tentando tirar a minha raiva), ela se justifica, colocando por si mesma o prazo para o pagamento. Eu: “Então, sexta-feira que vem, da outra semana.” Ela carregava o sotaque carioca, como eu bem conheço. Pensei: está encenando. Como é difícil enganar essa aspirante à psicanalista! (Estou rindo muito agora disso tudo). Ela: “Sim, sexta quem vem... Você deve estar retada. Mas você merece uma justificativa.” Eu: “Se você quiser dar a justificativa, tudo bem, mas não é do meu desejo ouvi-la. Eu só quero saber se é esse mesmo o prazo e se você vai cumpri-lo”. Ela ficou em silêncio. Eu dei o corte. E o que é melhor, retirei a raiva. Agora é só aguardar o resultado.

Mariana Magalhães

sábado, janeiro 20, 2007

Por Íris Ferraz(nº10)

A notícia da morte de uma tia, sábado passado, fez lembrar a morte de meu avô e com isso outras perdas, como o da convivência com meu pai. Na morte de meu avô, Ronaldo o filho dessa minha tia, que na verdade é irmã de minha vó, estava casado com minha mãe e foi quem prestou socorro e deu toda assistência, mesmo tendo visto o pai morrer da mesma forma e ter desejado não mais viver tal experiência. Após a separação com minha mãe ele voltou para São Paulo e por coincidência, na morte de sua mãe, minha mãe estava lá. Agradeço a feliz coincidência, sou grata pelo que fez no momento de prestar socorro a meu avô, eu não soube o que fazer, não conseguia ter uma atitude, fiquei assustada com a cena. Desde então não consigo prestar socorro, nem ver sangue.

Na semana retrasada minha vó me liga assustada, pedindo para prestar socorro ao seu cachorro que tinha engolido veneno. Fui mas rezei para que já tivessem levado quando eu chegasse, isso não aconteceu e de qualquer forma me deu possibilidade de viver a situação enxergando possibilidades.

Pra completar as associações, na semana passada, um grande amigo propôs me vender seu carro, fazendo uma troca pelo meu, única possibilidade de trocar meu carro no momento. Precisei pedir ajuda a minha vó, ela deu o aval mas logo depois tenta me convencer do contrário. Entendi porque todas as vezes que tentei trocar o carro nunca deu certo. Era o carro que meu avô me deu e ela nunca quis se desfazer e de alguma forma eu contribui.

Íris Ferraz

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Por Daniella de Aguiar(nº5)

Foi quando percebi que toda a ação do outro me influencia(va).

Como se sempre sumia um pouquinho quando alguém aparecia

Como sola e lua brincava de esconde-esconde com o mundo.

O grito!

A descida da gangorra me deixa à mercê.

Eu sou.

Lembrei que nunca havia conseguido cantar com outra pessoa porque desafinava o tom.

E naquela tarde eu e Gal cantamos muito.

Daniella de Aguiar

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Por Eduardo Sande(nº10)

Duas séries de sonhos marcam, no decorrer de minha análise, os caminhos da autorização. Na primeira série, dirijo um carro, encontro uma blitz. Estou sem documentos. O sonho do aeroporto faz parte desta série. Na segunda série, divido espaços com minha analista. Na sala de atendimento, em um imenso colchão, tomando‑lhe a cadeira. Do exterior, o outro demanda o início da clínica. Pergunta, sugere, interroga: quando sua clínica vai começar? – Então, tenho que começar uma clínica? Já como analista, um fragmento: atendo um perverso. Em uma sessão, enquanto fecho a porta do consultório, corre e senta na minha cadeira. – Hoje, o analista vou ser eu, diz. Sento na cadeira do analisante. – Será que você agüenta ouvir?, pergunto. Rápido ele devolve minha cadeira.

Eduardo Sande

terça-feira, janeiro 16, 2007

Por Mariana Magalhães(nº10)

Vou deixar fluir. Caneta boa essa! Lembrei de quando debrucei na janela do meu apartamento, coisa que pouco faço, e olha só o que eu encontrei: do lado de fora, tomando uma bela fresca, uma gata! Conclui que fosse uma gata porque seus mamilos estavam aparentes. Pensei, deve estar prenhe ou teve filhotes a pouco tempo... Observação certeira: ele deu um miado e de repente apareceu um, depois outro filhote! É algo mágico pra mim, sempre foi, observar filhotes mamando, a dedicação da fêmea. Já fiquei diversas vezes de vigília com as cadelas que passaram pela minha vida. Fiquei observando, e senti uma saudade enorme da minha filha! A gata fechava os olhos, relaxava enquanto dava de mamar. Pensei no que (....) deveria ter comigo, pensei em algo pra oferecer. Lembrei que gatos domésticos são os melhores caçadores dentre todos os felinos. Ela sabe se virar; é mãe. A saudade foi apertando e eu queria ouvir Clarice me chamar de mainha, coisa que eu sempre detestei, e ela faz: “Pó, mainha!” E agora acho lindo. Talvez eu deva começar de mainha para me tornar mãe.

Mariana Magalhães

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Por Íris Ferraz(nº9)

Tudo Azul, Tudo Blue

Queria escrever de vermelho, a caneta foi a sugestão. Escrever de vermelho porque quero falar dos meus relacionamentos. No último o vermelho era cor presente no outro e faltava em mim e para o rubro se fazer presente, o outro precisou faltar. Quero pensar em meus comportamentos enquanto namorada, sou respeitadora, amorosa, cuidadosa; fiel de corpo e alma. Enfim havia encontrado alguém assim. O encaixe perfeito, só faltava o meu vermelho. Minha cor era o azul; e o bom foi ficando ruim, o azul, blue. Mas, o que me traz a última relação é a lembrança das cobranças, tudo dependia de mim. Se a relação estava boa, se estava ruim, invariavelmente era minha culpa. A única vez que senti um movimento do outro foi no término, em que dizia: -me diga o que eu posso fazer então.

-não sei, nem tudo depende de mim como você esperava.

Minha resposta esclarecia a relação e me tranqüilizava, pois sempre me sentia culpada. A questão é essa, não gosto que me culpem, já tenho facilidade pra isso. A mesma coisa aparece em minha dificuldade com cobranças, porque minha família faz isso o tempo todo e parece que tudo depende de mim. Meu primo tem uma música que se chama “Ta tudo azul, ta tudo blue. Eu dizia que era uma música psicanalítica, bela música, convida a “parar” pra poder escutar. Me encanta a contradição das expressões:

-ta tudo azul;

-ta tudo blue. Que parecia dizer o mesmo e na verdade é o oposto. Gostava do azul, sem saber do Blue.

Iris Reis Ferraz

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Por Daniella de Aguiar(nº4)

E quando os encontros não me satisfazem?

E quando as pessoas não me despertam interesse?

Se antes a lógica da vida fora obedecer ao desejo do outro

Agora que o meu se mostra a mim mesma

A indiferença impera em minha vida e o oposto então ocorre

O outro não me mexe, não me interessa, não me provoca.

Só sinto vontade de não interagir

Só quero isolamento

Não vejo nada que me interesse no outro

E agora como existir sozinha?

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Por Eduardo Sande(nº9)

Minha análise pessoal em consultório desenrolou‑se ao longo de uma década. Pensar sobre ela, leva a refletir sobre a dificuldade de uma apreensão do processo histórico que é uma análise. Aquele que entra em uma análise se transforma constantemente, de maneira que se acha incapacitado de reproduzir, com qualquer competência, seu desenrolar. Minha análise, então, é para mim uma espécie de mancha. É como uma neblina em que se entra e que ao sair‑se se encontra o mesmo velho mundo totalmente modificado não por si mesmo, mas pela transformação produzida pela análise. Tentar escrever sobre a análise é retomar seus desvios e descaminhos. É reentrar nas brumas. É reabrir os caminhos da análise. Que bom! Se adentrares por esta porta...

Eduardo Sande

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Por Mariana Magalhães(nº9)

Penso sempre em várias coisas e sinto: tenho vontade de escrever sobre isso. Mas a prática do ato tem escorregado pelas minhas mãos faz algumas semanas. Hoje estou eu de volta, até levada pela regra que pensei em transgredir. Dessa vez não vai dar. Primeiramente, cumprindo-a, justifico a minha falta pela realidade: sou mãe e tive que assumir meu papel. Meio duro às vezes, quando se tem que ser o homem e a mulher, mas estou verdadeiramente inclinada a encarar esse meu masculino que meu pai plantou, não que eu esteja entrando no desejo dele, mas não consigo, pelo menos nesse momento da minha vida, deixar de assumir esse homem e a mulher dentro de mim – vou continuar trabalhando e pagar pra ver qual a decisão no final, se é que existe final. Ouvi certa vez alguém me dizer: “você não sabe o poder que você tem”. Isso em relação à sedução, sedução feminina. Talvez eu realmente não saiba, talvez eu realmente provoque, como ouvi há alguns dias. A mulher provoca, e o homem quer ser provocado. Mas com eu me sinto à vontade no universo masculino! Não estou sabendo tratar da questão, também nem sei porque entrei nesse assunto. Estou deixando a caneta me levar, alguma coisa vou tirar daqui. Talvez porque durante os últimos dias eu tenha que ter sido homem e mulher pra resolver as coisas da cirurgia de Clarice. Eu nem escrevo minha filha! A filha que a mãe não sente como tal. A mãe que age como homem. Como homem, não como pai. Ouvi minha irmã dizer: “Mariana pensa que Clarice tem 10 anos de idade!” Questões a serem trabalhadas. Finalizo por aqui.

Mariana Magalhães