terça-feira, dezembro 26, 2006

Por Íris Ferraz(nº8)

Cólicas, mau humor, sensibilidade, melancolia, pessimismo... uma mulher rapidamente poderá identificar estes sintomas, e são muitos, os que como mulher preciso enfrentar todos os meses. Uns com mais intensidade, outros com menos. A diferença psicanalítica, a diferença de gêneros. A diferença de ser mulher. Diria Rita Lee “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”, bom estou escrevendo porque mais um mês passo pela TPM e a cólica me incomoda. Aprender a conviver com um incomodo todos os meses me faz também parar e pensar, pensar no corpo. Como tenho estado, ultimamente, embriagada do estudo da histeria é impossível não associar a famosa TPM feminina ao útero nervoso e talvez 90% destes sintomas sejam pura herança histérica. Mas, por favor “histeria tem limite”.

Íris Ferraz

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Por Daniella de Aguiar(nº3)

E para quem não queria mais que o tempo fosse embora as mudanças apareciam-se cada vez mais descabeladas, com os fios fora do lugar. E o tempo não parava de ir. E eu não sabia se queria me pentear.
Daniella de Aguiar

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Por Conceição Nobre(nº7)

Hoje acordei pensando em Celina.

Ela era uma jovem viúva, bonita e sensível. Uma noite a confusão se instalou e lá se foi Celina. Fiquei com os sentimentos confusos, o coração doendo, apertado.

Aonde aquele olhar maternal, o sorriso gentil? Aonde as histórias antes de dormir? Aprendi a caminhar estudando relendo imaginariamente meus trabalhos fruto de ter ficado procurando Celina pelos cantos por onde andei. Antigamente se escolhia para madrinha alguém que deveria se responsabilizar pelo afilhado. Foi talvez por isso, porque como madrinha ela não estava autorizada a se esquecer de mim que recentemente conversamos. Ela me procurou, procurou, até encontrar. Uma emoção diferente se apoderou de mim. O que é um compromisso, um acordo religioso que não pode mesmo ser descumprido? Aonde o amor? O compromisso cobre, encobre, o amor e o ódio. Tenho sido uma péssima madrinha, talvez por ter desacreditado nesta relação. A madrinha se foi quando era tão necessária, causando rejeição

Conceição Nobre

terça-feira, dezembro 19, 2006

Por Eduardo Sande(nº8)

Falávamos outro dia sobre becos sem saída. Repentinamente, me referi a partir de um comentário sobre o Das Sein à busca do Santo Graal, a busca do cálice sagrado. Excelente ato falho. Vamos explorá‑lo: tinha citado uma intervenção feita em um grupo de estudo em São Paulo. Um dos analisantes do analista que coordenava o encontro traz um sonho que este relata: Tinha entrado em um beco sem saída. A intervenção do analista foi a seguinte: ‘todo beco tem uma saída, pelo menos: o lugar pelo qual você entrou; você veio da vagina de sua mãe , para ela pode voltar’. Em um lapso de tempo e ao falar de Heiddeger e Wittgenstein e da procura do atravessamento do fantasma saio com essa: a crença na essência como a busca do Santo Graal, a vagina de Madalena. A busca à vagina da mãe! O velho Édipo freudiano em cena. Em um lapso.

Eduardo Sande

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Por Mariana Magalhães(nº8)

Resolvi completar a minha casa , o meu desejo. Ganhei ontem um dálmata. Parece que ela me olha de duas formas, porque um olho seu é azul e outro verde, castanho... O dálmata parece um cão vira-lata, e esses são os melhores. Minha vida ganhou mais movimento. Silenciosíssima, curiosa ainda com seu novo ambiente. Coloquei-a para ouvir música e participar do meu silêncio, com o tempo vai aprender. São dóceis e caçadores cães dessa raça. Tenho a chamado de Dolto, minha Françoise, minha francesa. Tudo vai ficar completo, além dela tenho duas cadelas miniaturas, uma pinscher e uma poodle, cada uma com seu temperamento. Mas elas me compreendem nas suas limitações, respeitosamente. Sempre quando fico pensante demais desejo ser um cachorro, ter a leveza, não pensar. Às vezes é doloroso estar em psicanálise. Quando se chega num momento no qual as coisas parecem estar pintadas com lumicolor, não têm como escapar de seus olhos, não têm como escapar da interpretação e do entendimento. É um caminho sem volta. Fecho os olhos e penso, durmo, sonho, e trabalho assim mesmo. E tudo vai ficando mais complicado, mais denso. É caminho sem volta e sem fim... Talvez chegue o final das minhas sessões... Imagino algo orgasmático. Imagino. O que eu sinto agora é uma inspiração sem fim, o ar não sai de dentro de mim. Penso que se sair vai entrar em combustão, mesmo sabendo que o que sai de dentro já é uma combustão propriamente dita.

Mariana Magalhães

domingo, dezembro 17, 2006

Por Daniella de Aguiar(nº2)

E do ponto de vista dos outros

Ilusão

Da minha perspectiva

É ponto de fuga

(É o X da questão)

E como se o ar fosse um transe

Carros girando na pista

Esperando acreditando

Projeto na parede finita grandes pausas

Suspensão

Daniella de Aguiar

sábado, dezembro 16, 2006

Por Íris Ferraz(nº7)

Quis escrever pro mundofreudiano, sem idéia do que, sem assunto, como ir a uma sessão de análise, procurei meu caderno. Faz um tempo que quero escrever no caderno que ganhei para as escritas livres do mundofreudiano. Percebi que deixei no carro, peguei minha agenda, achei um texto que não li, achei que é atual, como se atualiza algo do passado contado em uma análise. O texto diz: “ peguei a agenda pra escrever pro mundofreudiano algo que me chamou a atenção. Mas agora outra coisa me veio, o fato de a partir dos 12 anos +/- adquirir o hábito de ‘escrever na agenda’, não segredos e fantasias sobre apaixonamentos, mas sobre mim, meu dia, enfim. Pensamentos sobre o que chamou minha atenção. Acumulei algumas agendas. Alguém certa vez disse: - você pode saber o que fez e o que estava pensando nesta mesma data anos atrás. Não sei quando mais deixei de escrever na agenda; em alguns anos a agenda ficava na maior parte vazia, em outras era um compromisso e apenas em algumas páginas se encontravam alguns relatos meus. Como disse no início quis escrever pro mundofreudiano, estou na minha sala, o caderno não está comigo, a agenda está para marcar compromissos de trabalho, quando decidi escrever nela é que veio essas associações.”

O texto anterior termina aqui e como de costume ao reescrever modifiquei algumas palavras. Faz parte da atualização.

Iris Reis Ferraz

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Por Potira Rocha(nº7)

O texto de Dani para o blog tem uma coisa, para mim, de assassinato do pai. Aquela formiguinha que fica modiscando a gente. O pai que apóia, mas as vezes atrofia. Preciso arranjar maneiras de andar sozinha. Acho até que já tenho conseguido. No pagamento das sessões - pelo menos a maioria delas - , no aluguel da sala, na hora do sexo. Potira Rocha

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Por Eduardo Sande(nº7)

A pré‑potência em alguma forma é impotência. Uma potência forjada, protética, no que diz respeito ao desejo. O que não quer dizer que não contenha um saber fazer. Que pode ser exatamente o mesmo que em uma situação de potência. Lacan diz no seminário XXIV que o final de uma análise é saber fazer com seu sintoma. Saber fazer com seu sintoma é distinto de simplesmente saber fazer. O saber fazer pode estar no sintoma. Uma pessoa que trabalha ao extremo, um workaholic, sabe fazer, mas no seu sintoma.

Bem, o que isto tem a ver comigo? Bom, eu sei fazer. Mas, boa parte do meu saber fazer ainda se localiza no sintoma. Uma outra parte é saber fazer com o sintoma.

O dramático, entretanto, é que quando se sabe fazer no sintoma, passar a saber fazer com o sintoma, implica uma renúncia. Renuncia a uma potência. Potência onde o sujeito não está, pois é prepotência. Potência prévia ao sujeito.

Entre a caspa e a histeria há um falo que não desliza facilmente. Uma visita à impotência e a falta. O que requer mais que uma decisão. Requer um atravessamento fantasmático.

Eduardo Sande

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Por Mariana Magalhães(nº7)

Continuo discordando desta regra. Não me sinto à vontade para escrever obrigatoriamente. O objetivo é trazer um texto, talvez essa regra seja para desinibir aqueles que não o tem feito, como pude constatar. Para mim é incômodo. O objetivo é deixar o subconsciente atuar e acho que fazer isso forçosamente é perda de tempo.

O grupo das quintas? Excelente! O corte? Necessário. Mas essa regra...Aqui se discute leis, de transgressão. Pensei em transgredir a essa regra, afinal, teria efeito somente pra mim mesma. Falo em contribuição sempre... Realmente, não consigo escrever o que já escrevi, da falta etc...? Finalizo por aqui.

Mariana Magalhães

terça-feira, dezembro 12, 2006

Por Daniella de Aguiar(nº1)

Pai, mãe e eu.

Um tripé sugere estabilidade.

Imagem de sua base: triângulo.

Mesmo que duas arestas estejam muito próximas elas precisam de uma terceira – (equilíbrio estático)

Na falta de um pé a permissão do tombo – (MOVIMENTO)

Daniella de Aguiar

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Por Potira Rocha(nº6)

Ontem meu pai passou mal, dor de cabeça, dor de barriga e vômito. Vou para a sessão, tudo fora da ordem, tudo um caos. Logo depois teria reunião administrativa mas preciso voltar para casa e levar minha mãe ao campo grande, reunião da igreja, e meu pai não poderia ir. Meus planos diziam: eu vou, levo minha mãe e volto pra confraria. Chego em casa, tudo errado. Meu pai pior, minha mãe a todo custo me fazendo cuidar dele e abrir mão de minhas coisas. Chuva de palavras, chuva de sentimento de culpa. Vamos ao hospital, chega a vizinha enfermeira, mede a pressão, dá remédio, ele fica melhor. A essa altura minha mãe já havia saído e eu ficado com ele. Raiva, porque eu abri mão das coisas importantes pra mim? Medo de que algo pior acontecesse e eu não estivesse por perto. Medo da morte do pai.

Potira Rocha

29/11/06

domingo, dezembro 10, 2006

Por Conceição Nobre(nº6)

Vazios

A reunião começa e ele é um silêncio só. Pra dizer que não, houve uns tá bem, certo, sim, pode ser, não... e quando chegou o mundofreudiano, mais silêncio e desta vez; tudo trancado. Quando acabou o trabalho, lá se foi embora, nem carona, nem nada.

Fiquei com o vazio. Percebo que é como abrir uma porta onde entro e sei muito bem, até demais, o que se passa lá por dentro. Volto ao porão das mil lembranças. A casa não existe mais, transformou-se em um imenso prédio. A casa de Leila ainda permanece, mas seu pai não é mais assustador. Transformou-se em um senhor gentil, senil, só, sem filhos. Era um pai intransponível, ela falava dele com pavor. Na verdade, falávamos de pais com pavor, às escondidas. Meu pai também era impossível. Calado, solitário, sem universos paralelos. Exigia descabidos silêncios, bons modos jamais aprendidos, coisas mesmo fora de questão. Quando crescemos e a idade adulta apenas vislumbrou nossas vidas, fomos morar bem longe daquela solidão. Suportar silêncios, durante anos foi algo extremamente penoso. Foi aos poucos que pude me encontrar com esses vazios. Aprendi a pensar, repensar, achar graça, me divertir ou entristecer sem que os sons fossem necessários. Foi mesmo nos silêncios de minha análise que descobri os sons. Aprendi a gostar de escolher os sons.

Os meus vazios foram convocados quando vi como ele estava tão solitário. Tive vontade de trazer risadas ou quem sabe, também os desaforos podiam servir. Ficava pensando: e se ele dissesse das agonias? Será que passava? Mas parece que naquela noite ele precisava mesmo estar só. Fiquei observando que o silêncio é mesmo uma grande conquista porque precisa perder o peso do ódio, do que não pode ser dito.

Conceição Nobre

sábado, dezembro 09, 2006

Por Íris Ferraz(nº6)

Até que nem tão histérica assim

Mais um texto para o mundofreudiano, mais um texto do meu mundo interno. Percebo que tenho de escrever, vejo que meu caderno não está, minha agenda também não... nenhum dos muitos espaços que reservei para meus textos do mundofreudiano estão por perto. Relendo o que escrevi até aqui percebi que quis escrever “tenho ‘dificuldade’ de escrever” e não escrevi “dificuldade”, ficando tenho de escrever. O que me lembra um compromisso financeiro grande que adquiri agora, me preocupa mais meu pensamento imediato é “vou pagar”. Algo da histeria se vai e permite movimentação.

Sei que nem sou assim tão histérica, mas esta pontinha de herança psicanalítica marca presença.

Íris Ferraz

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Por Marcos Cândido(nº6)

Estou pesando neste momento sobre o corte. No ultimo Mundofreudiano usei disto que não sei definir para alem do nome corte. Imagino que o corte pode ser vivido, sentido, percebido ou interpretado como um mecanismo de poder. Poder dizer ao outro para parar de falar. Parar de falar para que a coisa fale. Pergunto-me porque cortei. Poder Imaginário? Exercício de mestria? Ou corte em nome do inconsciente? Nos encontros do Mundofreudiano... Novamente, somente do ponto de vista imaginário, por que ha encontro não ha Mundofreudiano. Então! Nos desencontros do Mundofreudiano, começo a ter mais claro quando devo, melhor dizendo tudo fica mais claro depois que cortei. O único momento em que o faço sabendo e quando se trata de garantir as regras fundamentais do Mundofreudiano: Falar em nome próprio e só de si falar; · Não discutir Não filosofar Associar livremente, et. No ultimo Mundofreudiano cortei. Depois, enquanto escrevo, dou-me conta que cortei a mim mesmo e meu gozo voierista. Não ao incesto, sua sedução, e quem sabe a loucura nos diria Dolto. No Mundofreudinao percebo-me, às vezes, tentando burlar o corte, e assim deixar de falar, o que nos propomos a fazer quando estamos em analise para não fazer sexo. Na analise podemos desejar tudo e colocar este desejo em palavras, mas não podemos fazer sexo. No ultimo Mundofreudiano, enquanto me preocupava em escutar os textos dos outros abri espaço para o meu inconsciente. Encontrei produzindo a seguinte serie, que pude, agora que escrevo, organizar da seguinte forma: Gira-sol ---->caminho de Assis----> que esta no lugar do nome de meu pai----->Francisco ----->Lua (minha mãe) Sou lunático-----> a lua cheia me excita-----> a lua como uma mulher idolatrada----->musica cantada por meu pai Metáfora do corpo feminino idolatrado ----->eu idolatra - paralisado diante do corpo feminino Acho que pela primeira vez no depois pude, no depois, escutar a mim mesmo no Mundofreudiano. Tagarelice do inconsciente pois quando comecei, pensei que estava falando do outro. Isto quer dizer que também pude falar. Acho que esta experiência de poder falar e me escutar em publico, produzir em publico um discurso intimamente Outro, como efeito e a parti publico-intimo e algo extremamente fascinante em minha experiência analítica. Algo que para mim só havia se dado no setting analítico tradicional onde o discurso e intimo e privado. Trata-se de ter podido encontrar o outro em publico. Isto me faz pensar na idéia de extimidade, ou seja, o Outro e a coisa mais intimamente estranha, estrangeira que possuo. Dar-se conta deste encontro publico com o Outro me faz sentir coragem.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Por Eduardo Sande(nº6)

A pré‑potência em alguma forma é impotência. Uma potência forjada, protética, no que diz respeito ao desejo. O que não quer dizer que não contenha um saber fazer. Que pode ser exatamente o mesmo que em uma situação de potência. Lacan diz no seminário XXIV que o final de uma análise é saber fazer com seu sintoma. Saber fazer com seu sintoma é distinto de simplesmente saber fazer. O saber fazer pode estar no sintoma. Uma pessoa que trabalha ao extremo, um workaholic, sabe fazer, mas no seu sintoma.

Bem, o que isto tem a ver comigo? Bom, eu sei fazer. Mas, boa parte do meu saber fazer ainda se localiza no sintoma. Uma outra parte é saber fazer com o sintoma.

O dramático, entretanto, é que quando se sabe fazer no sintoma, passar a saber fazer com o sintoma, implica uma renúncia. Renuncia a uma potência. Potência onde o sujeito não está, pois é prepotência. Potência prévia ao sujeito.

Eduardo Sande

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Por Mariana Magalhães(nº6)

Talvez seja mais uma contribuição. Estou num final de uma sessão de análise. Digo estou porque estou analisando ainda... Eu analiso agora fisicamente, rapidamente. Bem básica: camiseta, tênis, jeans... Os homens são assim, básicos... Ah! Agora eu sinto vontade de matar meu pai... Ele disse: “Deus me deu três filhas mulheres, mais a minha do meio é o filho homem que ele não me deu...” São três anos somente de análise e eu saí pasma dessa sessão. Quanto tempo! Ele me colocou numa posição, e eu, cordeirinho, aceitei!! Eu repito a mesma história dele... É lindo, como é lindo e ao mesmo tempo pasmático descobrir isso... Olha só, minha psicanalista me oferecendo os papéis em branco de novo! Hoje eu tenho a caneta!! Hoje eu tenho a caneta e descobri essa posição contrária a minha natureza, até então feminina. Eu fui, eu sou, sei lá, eu sou um homem na família. Vou ter que matar o meu pai, é o jeito. Agora entendo as observações todas: “Passe um batom, ajeite esse cabelo”, ou “você não faz as unhas??” Minha resposta vinha. Eu não ligo pra isso, sou básica. Consigo atrair, consigo atacar. Mas como um homem! Homens gostam dos homens, mulheres gostam das mulheres, ouvi numa conversa com Eduardo e Conceição. Sou mulher, que atrai homens, mas que nenhum suporta estar ao meu lado... Homens não podem gostar de homens. A mulher que eu sou não gosta do homem que eu sou, porque eu tenho que ser mulher pra gostar de mim...Vixe! É uma confusão só, estou pensante demais. Queria ser um cachorrinho meu agora... Tenho a sensação que consegui pegar, tatear a minha análise. Tem algo muito sólido nas minhas mãos, e eu tenho que trabalhar.

Mariana Magalhães

Por Potira Rocha(nº5)

Meu Deus, quanta coisa pra ser escrita...mas eu nem sei o quê. Ando animada com o mundofreudiano na web. CORTO!!!

- Paga pra falar e dá pra mentir – disse o analista. Isso ainda ecoa...eu tinha pensado em dizer, mas logo me: “isso tem um sentido”. Não disse. Mas disse já querendo interpretar-me e o analista me lança essa.

Minha vó está em casa e tem sido por várias vezes assunto nas sessões. Uma mulher apagada, quase não querendo ser mulher, quase querendo ser nada. Um jarro que se coloca num canto e fica lá até mudarem-na de lugar. Ela me irrita. Me irrita porque não se move e quando tenta é em momento impróprios. Me irrita porque até pouco tempo nem sabia meu nome, me irrita porque nunca agiu como avó, tipo a D. Benta. Me irrita porque alimenta meu sintoma.

Potira Rocha

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Por Conceição Nobre(nº5)

Que Mestres?

Penso no trabalho e no prazer. O que seria o trabalho sem prazer, ou o prazer sem o trabalho? Adoro as sextas feiras, dias de informal desencontro. Adoro ainda mais os sábados, depois das cinco, noite adentro caminhando sem subterfúgios. Essas eternas buscas começaram uma tarde, de tardinha quando olhei pro céu e lá estava ela, redonda e linda. Lembro de estar no colo de meu pai, quando fui invadida por uma sensação de inquietude e perguntei: que lugar é esse, estamos em que mundo? Que viemos fazer aqui? E o que é isso que vocês chamam vida? Ainda posso ouvi-lo respondendo sem responder, repetindo minha pergunta: Veja Maria, era assim que ele chamava minha mãe, veja o que ela pergunta. Como ele não queria mesmo responder, fiquei com as perguntas sempre à mão, quem sabe talvez a resposta aparecesse assim, de repente. A imagem daquela lua ficou marcando uma posição que eu nem podia imaginar. Descobri na análise, que depois desse dia não pude mais deixar de ser inteligente. De fazer perguntas inteligentes. Nenhum contrato teria sido obedecido com maior precisão.

Uma tarde, de tardinha, anos depois, achei a lua muito diferente. Ela era toda linda. Fiquei doida, como fico mesmo quando as coisas me importam. Tomada de muita ansiedade subi para a laje do banheiro de minha irmã e fiquei deitada no chão de cimento completamente fascinada. A lua brilha!!!! Meu Deus, a lua brilha. Que planeta é esse? É muito, muito bonito!!!

Meus irmãos quiseram saber o que eu fazia de tão extraordinário, ali deitada no chão suspirando. Pouco depois, estendemos os cobertores pelo telhado e ficamos todos suspirando. Apreciei e aprecio cada fase dessa lua de brilhante e vou pondo nomes, lua de feiticeira, de bolacha, escondidinha.

Durante anos, essa era uma história sem resposta. Como alguém pode ter chegado à adolescência sem saber que a lua brilha?

Quando pude me libertar do contrato paterno com a inteligência, fiquei flautando por aí, dando risada de coisas bem bobas e fazendo de bobos os inteligentes. A lua de brilho intenso que eu desconhecia, muito me ajudou a deslizar, a duvidar e depois a poder rejeitar os termos desse contrato.

Essa semana, no mundofreudiano, falava de como implicava com pessoas que exigiam que se aparentasse inteligência e como sempre respondia a essas demandas de conversas formais e sérias, com as maiores banalidades. Ainda dava os últimos risinhos quando senti aquele friozinho na espinha, sinal que algo de fantasmático acabava de ser tocado.

Meu Deus! Ocupavam o lugar paterno e eu respondia... pelo avesso!

Sair do olhar repressor de antigos Mestres não foi nada simples. Eu precisava daquelas reprimendas por não estar sendo inteligente o suficiente, e se eu não podia ser tão inteligente como o desejável, então deveria ser burra. Claro que encontrei nesses Mestres o que meu masoquismo necessitava. Como foi difícil abrir mão do papel, da posição definida pelo desejo deste Outro.

Fiquei perplexa! Mas que amídala que não acaba nunca.

domingo, dezembro 03, 2006

Por Íris Ferraz(nº5)

Esperando o elevador para subir até a sala de minha analista, chaga uma mulher com uma adolescente. A mulher fala e demonstra uma dificuldade, um problema, a filha fala: “- mãe, pára”. A mulher quer falar com toda dificuldade, a filha veta outra vez. A moça era bonita, tinha uma presença muito agradável, se vestia com autenticidade, parecia saber conviver com sua dificuldade ou talvez um problema mais complexo, não sei... Mas a submissão à filha me entristecia. O elevador chega , entramos (com mais 2 pessoas) a moça fala novamente, a filha a recrimina com gestos e então ela não diz mais nada. Penso que aquela filha tentava deixar a mãe invisível. Eu que tinha dirigido minha atenção de forma tão agradável àquela moça não pude descer sem antes me esbarrar nela, tocar em seu ombro e pedir desculpas. Afirmando sua existência.

Ainda não entendi pq esta situação ficou marcada em mim, mas escrever é i 1º passo para compreender.

Íris Ferraz

sábado, dezembro 02, 2006

Por Marcos Cândido(nº5)

Cartografia

Na solidao fui traçando as tramas de um amor.

Palavras faladas e escritas viravam

imagens de mim mesmo.

Na vida sem atos de dizer,

simulacro do meu desejo,

O outro nao se apresentou para o banquete.

Nao sei o que fazer

com toda a comida e bebida

preparada para a festa.

Lá onde a palavra falta,

um estranho se aprensenta

portando uma mensagem em língua

estrangeira e sem sentido para o meu ouvido cego.

Desencontro...

Eis o momento evidente do gozo!

Respondo ao meu proprio convite,

e banqueteio-me comigo mesmo.

Não vejo outra saída

que a de continuar

falando sobre o estrangeiro.

Quimera infantil de um prazer impossível.

Encontro fulgaz do qual

a cartografia é mais uma ilusão.

As coordenadas, ainda que se repitam,

sempre levam a outro lugar.

Marcos Cândido

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Por Eduardo Sande(nº5)

Alguns sintomas retornam...

Sintomas tão distante quanto o início da puberdade. Qual os significado deste retorno? O que me parece mais evidente é que cadeias significantes antigas estão sendo acessadas. Momentos da atualização da montagem fantasmática. Que devem ter ficado como pontos cegos em minha análise. O incômodo não é pequeno. Evidente que é bem menor do que foi anteriormente quando da puberdade. Será preciso, portanto, escrever bastante no mundofreudiano.

Eduardo Sande